Natal da Família Addams

no dia 31 de dezembro de 2009

Festas de fim de ano são por essência familiares e por assim serem me remetem às lembranças da infância em família, melhor dizendo, aos encontros natalinos junto aos meus consaguíneos tão antagônicos.
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Embora nossa vida não fosse necessariamente um mar de fartura, meu pai sempre dava um jeito de nos presentear no Natal, a mim e à minha irmã, com brinquedos eletrônicos da Estrela, marca que reinava absoluta em uma época sem tanta opção. Hoje comprar brinquedo é muito banal e se presenteia até com R$1,99, mas naquele tempo era uma coisa especial, um acontecimento, pelo menos na nossa família.
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Hoje eu entendo que era uma ousadia para o orçamento...
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Mas, não tenho a intenção de deprimir ninguém e muito menos a mim mesma lembrando do quão difíceis eram as coisas. Acho que consigo ser nostálgica e divertida ao mesmo tempo, só de lembrar dos Natais politicamente incorretos na casa da minha avó Florípes, em Ituiutaba. Embora fossem apenas uns 120 quilômetros de distância, para nós, crianças, era "a viagem", tão esperada, imaginada, insistida com minha mãe.
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O Natal para nós era o encontro com os primos que moravam em outras cidades, era correr a esmo no quintal perseguindo sei lá quem e sei lá o que. Era formar grupinhos e disputar qualquer coisa uns com os outros. Era comer bolo, pão de queijo e biscoito de polvilho de manhã, tudo feito em casa pela minha avó, às toneladas, na véspera de Natal. Era vestir roupa nova, sem repetir nos dois dias, claro!
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E por último, principalmente, desfilar a boneca nova que chorava e ria, bastando para isto que apertássemos sua barriga. O botão detonador dos risos e choros era no meio de uma grossa camada de um tipo de espuma dura, e achar o rumo disso lá no meio era um custo, mas ainda assim, com jeitinho, a gente aprendia rápido, para então mostrar às primas com "naturalidade".
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Eu não me lembro, prá dizer a verdade, de nenhuma noite ou jantar de Natal na casa da minha avó, embora deva ter havido, claro, mas só me vem à mente, de forma esparsa, as confraternizações em grupos:
 - Os homens se confraternizando de um lado, bebendo e conversando.
 - As crianças se confraternizando no barro (afinal, Natal tinha que ser chuvoso?) e consequentemente sujando casa e roupa o dia todo.
 - As mulheres confraternizando na pia, no tanque, no fogão e na indignação. Era um tal de falar mal dos maridos, dos filhos, do tempo, da vida, das estrelas, da lua e quem mais surgisse na mente. Arantes que é Arantes não deixa passar nada, e as que não eram Arantes por sangue, aderiam por conveniência. Lastimavam e riam de si mesmas ao mesmo tempo.
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Quase não contenho o riso agora, lembrando disso!
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Era um aperto geral, aquele monte de tios, primos e primas fazendo fila no único banheiro, se amontoando pra dormir nos lençois cheirosííííííssimos de limpeza da minha avó. Um irmão ou primo implicando o outro, fazendo as mães se "estranharem" umas às outras.
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Depois de tudo era cada família voltar ao seu destino, e olhe, ainda bem que não havia lei seca naquela época e nosso anjo da guarda tinha um espírito natalino invejável, porque apesar de toda estravagância etílica, sempre chegamos sãos e salvos em casa.
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Até hoje me custa acreditar como tanta gente ocupava tão pouco espaço ao mesmo tempo, mas no fundo deu uma saudadezinha. Não existia internet e muito menos celular. Telefone fixo poucos tinham, então só nos conhecíamos pessoalmente, só sabíamos uns dos outros nos encontros. Não conhecíamos através do Orkut os filhos dos parentes e sim numa visitinha básica que durava o final de semana todo e acreditem, não precisávamos ligar avisando que iríamos nas casas uns dos outros. A qualquer hora qualquer parente era bem recebido... ou pelo menos se tentava não deixar transparecer o mau humor pela visita repentina e demorada.
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A conclusão que tiro disso todos já sabem: ninguém no mundo jamais substituirá nossa família, por mais esquisita, imperfeita, mal encaixada que ela seja. Existimos até naqueles parentes inconvenientes, mas que nos querem bem, coisa que só temos incondicionalmente junto aos nossos.
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E que em 2010 tenhamos mais tempo para nossas famílias.
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Para 2010 ser melhor…

no dia 12 de dezembro de 2009

ano-novo

RECEITA DE ANO NOVO
(Carlos Drummond de Andrade)

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Para você ganhar belíssimo Ano Novo...
Não precisa fazer lista de boas
intenções para arquivá-las
na Gaveta.


Não precisa chorar de arrependimento
pelas besteiras consumadas nem
parvamente acreditar que por decreto
da esperança a partir de Janeiro
as coisas mudem e seja claridade,
recompensa, justiça entre os homens
e as nações, liberdade com cheiro e
gosto de pão matinal, direitos respeitados,
começando pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um ano-novo que mereça
este nome, você, meu caro, tem de
merecê-lo, tem de fazê-lo novo,
Eu sei que não é fácil mas tente,
experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.
Um maravilhoso Ano Novo para você !

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