Sobre não ser mãe

no dia 27 de fevereiro de 2011



Imagem

Bom dia!
Essa crônica faz parte do livro "Coisas da Vida", da Martha Medeiros, escritora que amo ler!

A postagem de hoje é especialmente de dedicada às mulheres que NÃO SÃO MÃES, ou porque não podem, não querem, porque reservam esse projeto para o futuro e ainda, porque estão indecisas.

Mas gostaria muito que as que JÁ SÃO MÃES lessem, para entender melhor o que se passa conosco.



"Semana passada me telefonaram de um jornal para pedir um depoimento sobre mulheres que decidiram não ter filhos. Queriam um testemunho curto e rápido.

Sobre um tema tão intenso? Fui curta e rápida, mas agora vou me estender.Tenho duas filhas planejadas e amadas, que nunca me provocaram um segundo sequer de arrependimento. Mas nunca fui obcecada pela maternidade. Acredito que qualquer mulher pode ser feliz sem ser mãe. Existem diversas outras vias para distribuirmos nosso afeto, diversos outros interesses que preenchem uma vida: amigos, trabalho, paixões, viagens, literatura, música - até solidão, se me permitem a heresia. Conheço mulheres que se sentem íntegras e felizes sem ter tido filhos, e mulheres rabugentas que tiveram não sei por quê, já que só reclamam. Há de tudo nesta vida. Mas tenho pensado nesta questão porque, dia desses, uma amiga inteligente, realizada e linda completou 50 anos e se revelou meio abatida por certos questionamentos que chegaram com a idade - uma idade que está longe de ser das trevas, mas que é emblemática, não se pode negar. Ela nunca quis ter filhos. Escolha não, impossibilidade. Tem uma vida de sonho, mas ela anda se perguntando: não tive filhos, será que fiz bem? Ninguém tem a resposta. Mas é fácil compreender o dilema. Quando entramos nos 30, o relógio biológico exige uma decisão: ter ou não? Algumas resolvem: não. Criança dá trabalho, criança demanda muita atenção, criança é dependente, criança interfere no relacionamento do casal, criança dá despesa, criança é pra sempre. Tudo verdade, a não ser por um detalhe: crianças crescem. Crianças se transformam em adultos companheiros, crianças são quase sempre nossa versão melhorada, crianças herdarão não apenas nossos anéis, mas nossos genes, nosso jeito, nossa história, e isso é explosivo, intenso, diabólico, fenomenal. Aos 30, só pensamos na perda da liberdade, mas, aos 50, conseguimos finalmente entender que a maternidade é muito mais do que abnegação, é uma aposta no futuro. Depois dos anos palpitantes e frenéticos da juventude, chega uma hora em que deixamos de pensar apenas no lado prático da vida para valorizar as conquistas emocionais, que são as que verdadeiramente nos identificam. Não estou fazendo apologia da maternidade, sigo acreditando que todas as escolhas são legítimas. Mas optar por não ter filhos não é algo trivial. É uma experiência profunda de que abriremos mão de vivenciar. É uma emoção que transferiremos para sobrinhos sem jamais saber como seria se eles fossem gerados por nós - ou adotados, o que dá no mesmo. Vale a pena desprezar este investimento de amor? Um investimento que, diga-se, é uma pedreira muitas vezes, não é nenhum mar de rosas! Nessas horas é que faz falta uma bola de cristal. O problema é se a dúvida vier nos atazanar mais adiante. A gente nunca sabe como teria sido se... É por isso que, neste caso, compensa queimar bastante os neurônios antes de decidir. Não dá para pensar no assunto levando-se em conta apenas o momento que se está passando, mas o contexto geral de uma vida. Porque não ser mãe também é para sempre."

15 comentários:

  1. Ahhhh... ela é maravilhosa e sábia sempre! "Não ser mãe tbm é para sempre" e vou falar POR MIM. Eu não me vejo sem filhos, não vejo sentido na minha vida sem meus pequenos, não ligo de trabalhar feito camelo e ver a conta no vermelho no fim do mês pq precisaram de roupas extras ou pq eu fiz uma extravagância e comprei algo que eu queria prá eles, não ligo de abrir mão de festas e badalações pq tenho que amamentar e embalar minha gorda. Mais que isso, não me vejo velha, no futuro, almoçando ou jantando só a dois, não me vejo sem ser vó... hahahah, ah... vou ser uma vovó bem bacana. E me frustrei muito e quase enlouqueci quando antes do Leo achava que não conseguiria ser mãe... pode-se ser feliz de outras formas? Os outros talvez sim, eu não... nasci prá ser mãe ;o) E não há nada que não fique pequeno diante de um mããããmããããe e das banguelinhas sorridentes pela manhã, vale qualquer gasto, sofrimento ou sacrífio... QUALQUER... Eu amo ser mãe! Beijocas amiga ♥ e obrigada pelo texto.

    ResponderExcluir
  2. Oi Clau!

    Texto ótimo, digno de uma grande reflexão!
    Não ou mãe, mas quero muito ser, espero que eu consiga realizar esse meu grande sonho... Super beijo Paty!

    ResponderExcluir
  3. Adoro este texto. Concordo e compreendo o que ela quis dizer e, acima de tudo, me identifico. Nunca quis ter filhos humanos, só caninos. Passei 18 anos com esta certeza até que algumas coisas aconteceram e reavaliei.

    Tive dois filhos planejados, sou boa mãe, mas não sou boazinha, procuro educá-los bem, com carinho, mas com firmeza, para que se tornem boas pessoas para construírem um mundo melhor. Me sinto 100% atendida em meus anseios até hoje.

    Poderia viver bem e ser feliz sem ter tido filho nenhum, com toda a certeza. Mas também, com toda a certeza, me tornei uma pessoa bem melhor depois do nascimento deles, mais flexível, mais abnegada, mais consciente de cada atitude.

    ResponderExcluir
  4. E eu, que acabei de dar banho, colocar muita hipoglós no bumbum, dar de mamar e colocar pra dormir com um sorriso no rosto, chorei ao ler esse texto.
    Porque quem escolher não ser mãe pelo egoísmo e ciúme (pq tem gente que não quer dividir o marido, a casa, o cachorro, a vida), e não por problemas e/ou pura falta de vocação para a "coisa", nunca vai saber o que é ter esses momentos.
    Insônia provocada por um choro de dor, ou por um choro só de manha mesmo, a falta de tempo pra si, o cansaço, as dores nas costas... tudo isso ficam para trás depois de uma rotina exaustiva e feliz com um bebê que larga o peito para dar um sorriso lindo e aberto (daqueles de escorrer leite pela sua roupa de sair limpinha).
    Ser mãe é maravilhoso.
    E não ser mãe só é maravilhoso quando a decisão é muito bem pensada e não traz arrependimentos.
    Beijocas

    ResponderExcluir
  5. Sabe, acho mesmo a maternidade linda,..mas acho que ela não é centro da vida. Tenho 2 filhos, sou feliz com isto.
    Mas nunca deixei minha vida a parte,..meu primeiro filho ainda tinha7 meses quando fui fazer minha faculdade,...nunca deixei as amigas,..principalmente as solteiras, acha que elas são energia a nossa vida. Nunca deixei de bailar..viajar..namorar por razão dos filhos. Dá pra ser tudo e mais um pouco, apenas colocar limites. Sou uma mae enorme...um pote de carinho,..mas acima de tudo eu me amo bem. Se eu tivesse escolhido não ser mãe também levaria bem isto comigo, como vc diz ali...eu gosto de viver minha solidão..o que não é solidão..é saber viver com vc mesma..sozinha .. Eu amo ficar sozinha, isto faz tão bem a alma. E há quem diga que não...e tbem que sim..e daí...vamos que vamos.
    bjos...linda..bom seu texto.!

    ResponderExcluir
  6. Maravilhosos texto. E a conclusão que chego e que todos deveriam pensar é: nunca julgar ninguém pelas suas decisões. Aceitar e amar cada um do jeito que se é. Pq o que é bom pra mim pode não ser bom pra vc e vice-versa. Acredito se todos pensassem assim, haveria menos discórdia no mundo, né!

    Beijo

    Eliane (Leituras de Eliane)

    ResponderExcluir
  7. Concordo com a Martha e, sem saber, escrevi algo muito semelhante em alguns post atrás.
    Filho é uma forma de realizar uma parte das nossas várias facetas e não a única.
    Viva a diversidade!
    bjs

    ResponderExcluir
  8. Oi, Clau!
    Ah, esse texto da Martha é maravilhoso.
    Eu tenho grandes amigas que escolheram não ser mães e são muito bem resolvidas assim. No início eu não entendia muito bem(elas sabem disso, mas hj vejo que foi uma escolha de vida. E que a vida é feita de escolhas. Não tem uma música que diz "cada escolha, uma renúncia, essa é a vida..."?
    E eu não saberia escolher outra coisa... apenas sou o que sou porque sou mãe. E ver meu filho crescendo, aprendendo, se tornando um homem de bem e auxiliá-lo nesse processo é o que me deixa mais feliz.

    bjs

    ResponderExcluir
  9. Olá Clau! Essa é minha 1a visita aqui e gostei de vc e de sua escrita.
    Sobre o post, estou quase nos enta (40) e tenho problemas de fertilidade. Meu relógio biológico anda gritando e me torturando.
    Muitas vezes penso q tudo q quero é um bebê e noutros... ser tia me basta.
    Seu texto foi mto bom para mim. Preciso abrir minha mente, mas tenho receio de no futuro me fazer a pergunta q sua amiga de 50 se fez.
    Bjs no coração.
    Ahhh, qdo puder passe no meu cantinho. Vou adorar ter vc por lá. {http://segredosdaanna.blogspot.com}

    ResponderExcluir
  10. Oi Clau querida!
    Tb adoro os textos da Martha Medeiros. O de hoje no O Globo é maravilhoso: Som e fúria. Mas me referindo ao assunto do que postou - ser ou não ser mãe - tenho minha opinião formada e consolidada na minha experiência pessoal. Tenho filho (um de 31 anos ), não foi programado mas quando veio foi muito amado como o é até hoje. Não era meu grande sonho ser mãe, nem prioridade. Mas foi uma realização, não nego, e hoje não sei como viveria sem meu "filhote". Daí concluo que a felicidade não está em ser ou não ser mãe e sim em como vc será e se sentirá sendo ou não sendo...complicado,né? Acredito que a resposta está dentro de cada uma de nós. Uma semana maravilhosa para vc e mil Bjs

    ResponderExcluir
  11. Muito bom texto.
    Mas acredito que nasci para ser mãe. ADOOOORO ser mãe, agradeço a Deus por essa benção que são meus filhos.
    E sem mais delongas, concordo com a Tays em gênero número e grau.
    Beijinhos.

    ResponderExcluir
  12. Oi Clau!
    Também sou fã de carteirinha da Martha Medeiros! Acho os textos dela de uma clareza e bom senso irretocáveis! Ser ou não ser: eis a questão, já dizia o nosso amigo William Shakespeare, e só quem pode decidir ou aceitar somos nós mesmos! Faço minhas as palavras tão bem colocadas na conclusão da querida amiga Ana Guarany.
    Bjs e uma ótima semana!

    ResponderExcluir
  13. Oi Clau, tenho o maior respeito por mulheres que decidem não serem mães.
    Eu, adoro ser mãe, mais ainda agora que sou avó. É gratificante ficar junto com meus filhos, agora não mais só filhos e sim, grandes amigos e companheiros. É maravilhosa a sensação do dever cumprido, de ver que consegui formar adultos honestos, trabalhadores e pais dedicados.

    ResponderExcluir
  14. Que texto lindo. Realmente tocante. Eu sempre quis ser mãe. Alias é a única coisa que eu quis ser, e eu adoro. Só tenho um filho por pura incompetência, por mim, teria 3.
    Entendo as pessoas que optam pelo contrário, mas tenho uma amiga que diz uma coisa que eu acho que retrata muito bem a situação: "ser aldulto sem filhos não é problema nenhum, mas ser idoso sem netos, é triste demais." Eu concordo com ela. Beijinhos,

    ResponderExcluir
  15. Oi Clau,

    Mais um texto magnífico de Martha Medeiros. =)

    Maternidade é um assunto um tanto delicado. Já tive uma fase que era fascinada por este mundo, louca com bebês, cheguei até ter uma coleção de fotos garimpadas da internet de bebês lindos, sonhava em ter um filho. Hoje, talvez pelas circunstâncias, mas não penso em ser mãe. Talvez mude daqui um tempo, não digo que é uma decisão, até porque não depende apenas de mim para isso.

    Tudo acontecer na hora certa. =)

    Beijos

    ResponderExcluir

Use esse espaço para dizer o que pensa. Gentileza é sempre bem vinda.



Últimos tweets