Daí que em um dia normal de trabalho eu voltava do almoço, quando fui abordada por uma mãe desesperada com o marido preso e o filho pequeno com fome. Enquanto eu e uma colega tentávamos ajudá-la, algumas pessoas me procuravam no meu local de trabalho. Estas pessoas eram do Juizado da Infância e Juventude. Nesse dia nasceu Sophia para nós.
No mesmo dia, claro, agendamos visita ao abrigo. Sophia conquistou primeiro ao pai com altas risadinhas banguelas e gritinhos. A mãe se rendeu no segundo encontro.
Foi correria total, pois por mais que estivéssemos esperando esta notícia há quatro anos, não montamos quarto para ela, queríamos que tudo fosse feito após o contato do Fórum. Bercinho, carrinho, roupinhas, tudo isto preparado em menos de uma semana. Euforia tomou conta de nós e aquela mini pessoa de quase 4 meses passou a ser o centro dos nossos assuntos e da nossa vida. Entre o primeiro contato e a sentença que nos permitiu trazê-la para casa, se passaram quase 20 dias. Foi um tempo sofrido, mas de amadurecimento e criação de vínculos. Cada vez era mais difícil deixá-la naquele bercinho e vir embora.
Sophia nasceu saudável, de parto normal, bem perto da data dos festejos Natalinos e nós, longe dali, nem sonhávamos que em algum lugar já existia nossa filha. Não temos o direito de julgar ou apontar quem não quis ou não pode ficar com ela, isto não importa, importa é que a Deus entendeu que era nossa filha e usou o Judiciário para entregá-la no endereço certo. Mesmo não tendo nosso DNA , temos o vínculo do amor, que é maior do que a biologia.
Por questões processuais, não podemos divulgar fotos, então, amigos, por favor, entendam.
Após estes 20 dias visitando a pequena quase que diariamente no abrigo, numa quinta feira 30 de abril, 17:30 horas, me avisaram que eu poderia trazê-la para casa. O pai tinha tido uma emergência e estava viajando, afinal não sabíamos o dia certo que sairia este documento. Então, mal consegui terminar meu expediente de trabalho e me dirigi ao abrigo sozinha. Não teve comemoração, não teve gente esperando para ver a foto no colo da enfermeira, não teve família na sala de espera. O que tinha era uma mãe sozinha, morta de medo, mas que não podia esperar até o dia seguinte para trazer o pacotinho para casa. Uma tensão tão grande que não deixou nem a emoção aflorar.
Como tudo que é para dar certo, simplesmente dá, uma monitora do abrigo estava de saída e tinha que passar pelo caminho da minha casa. Eu, que já vinha carregando no carro a malinha e o bebê conforto há dias, só tive que trocar a filha e contar com este favor da monitora em acompanhá-la no banco de trás do carro e vir aqui em casa comigo para me dar as últimas instruções de remedinhos, enquanto eu quase surtava com medo de fazer tudo errado. rsrsrs O pai só chegaria sábado à tarde, mas antes disso recebi suporte de algumas pessoas, amiga que gentilmente trouxe almoço e um perfuminho de bebê para Sophia causar com as visitas, além de dar colo pra criança enquanto a mãe almoçava, família do pai que compareceu para conhecer a princesa e dar suporte e especialmente da tia, que é pediatra e veio examinar a nova sobrinha em casa, não é um luxo?
Acabou sendo tudo como sonhamos, quartinho rosa e marrom arrumado às pressas mas não com menos carinho do que quando se tem nove meses para fazê-lo, lembrancinha de visitas, farmacinha cuidadosamente montada pelo pai e overdose de roupas rosa, porque sou dessas, me deixa rsrsrs
O que não foi como sonhamos foi a própria Sophia, que supera a cada dia as nossas expectativas nestas quase duas semanas. É uma criança feliz, saudável, carismática e faz todo o cansaço valer a pena quando dá seus sorrisos e seus gritinhos estridentes.
Uma mini gente que se desenvolve a cada dia e enche a casa de bagunça e de muito amor. Eu me sinto como se ela sempre tivesse pertencido a esta casa.
Já tem padrinhos, já recebeu muitas visitas de amigos e conheceu quase todos os familiares, tendo sido sempre rodeada de muito carinho. Não vou citar nomes, mas olhem, tive boas surpresas inesperadas em termo de demonstração de afeto. Requeri licença maternidade e espero ficar seis meses em dedicação exclusiva aos cuidados e desenvolvimento dela, sem contar, é claro, que estes primeiros momentos são muito importantes na criação do vínculo dela conosco.
Concluo dizendo que, como já dizia Chico Xavier, tudo que é nosso dá um jeito de chegar até nós. Sophia chegou e hoje ela nos pertence e nós a ela.