Eu sou contra violência. E quem virá aqui dizer que é a favor? Ninguém, eu acho.
Ontem, dia 18 de maio, foi o DIA NACIONAL DE COMBATE À VIOLÊNCIA INFANTIL. Quando falamos de violência logo pensamos em casos chocantes como os das crianças lançadas por janelas de prédios, as espancadas que chegam com múltiplas fraturas em hospitais, as agredidas sexualmente e tantas outras atrocidades que tomamos conhecimento através dos noticiários.
Mas o que dizer das famosas palmadinhas, chineladonas, beliscões e outras formas de castigos físicos?
Já pensaram se fosse a mesma coisa conosco? Se nós, adultos donos de nossas vidas fôssemos castigados com palmadas a cada vez que passássemos num sinal vermelho ou que pagássemos altos juros em bancos por dívidas mal administradas? Se nosso chefe, ao perceber um erro de digitação num ofício nos mostrasse a chinela e nos ameaçasse?
Eu sempre penso dessa forma e procuro não ser uma pessoa violenta nas minhas atitudes com os meus. E antes que digam que ah, ela não tem filhos, blá blá blá, eu digo que é um posicionamento antigo meu e acho que se pode impor autoridade e dar orientação/educação sem necessariamente fazer o outro sentir dor e medo.
Quanto eu faço visitas (como voluntária), eu percebo que logo que contrariados, os pequenos chutam, dão tapas e repetem a violência sofrida em casa.
É isso que queremos dos nossos descendentes?
Abaixo um artigo sobre o assunto que encontrei hoje. Leiam até o fim, é interessante e leve.
Quem bate para educar, ensina a bater
Ao dizer não aos castigos físicos e humilhantes impostos às crianças, o Brasil dará um grande passo no processo civilizatório de nossa sociedade, juntando-se a países como Suécia, Finlândia, Dinamarca, Noruega, Áustria e Alemanha que já aboliram essa prática cruel e covarde.
Tramita no Congresso Nacional Projeto de Lei que prevê o respeito aos direitos da criança e do adolescente de não serem punidos fisicamente - mesmo que de forma moderada e sob o pretexto “pedagógico” - não se tratando “todavia, da criminalização da violência moderada, mas da explicitação de que essa conduta não condiz com o direito”, bem como, é a base para a construção de uma cultura da paz e da não-violência.
Sabendo-se que a lei, por si só, teria pouca força para mudar nossa cultura machista (do poder pela força física e autoritária) e “adultocêntrica” (os filhos são vistos como propriedade dos pais) traz grande esperança a campanha “Não bata. Eduque” que, através de grandes veículos de comunicação, impregnará a consciência coletiva dos males que esse modo de “educar” acarreta na formação moral do indivíduo e de suas conseqüências nas relações da sociedade.
Entre tantas razões para abolir o uso da “violência pedagógica”, me bastaria o ditado “quem bate para ensinar ensina a bater”, no qual fica lógico que no tapa, no beliscão, no empurrão, os pais estão dizendo aos seus filhos que conflitos se resolvem com violência.
Num viés mais “científico”, Piaget aponta, quanto à evolução moral da criança, que até 10/12 anos o indivíduo respeita as regras pelo controle externo imposto, porém, a partir dessa idade, irá comportar-se de acordo com suas regras e com os valores construídos até então. Portanto, o “tapa pedagógico” não cumprirá mais seu objetivo de contenção e o jovem irá responder com o que aprendeu: violência.
Infligir dor ou humilhação para educar uma criança não é exercer a autoridade inerente e obrigatória dos pais e, sim, a falência desta.
A criança que apanha e é humilhada em casa tem forte tendência a repetir esse comportamento na escola, sendo autores de bullying (atitudes agressivas, freqüentes e sem razão aparente contra colegas), tema ao qual nos dedicamos a pesquisar e a promover seu combate através do Projeto Diga Não ao Bullying.
“Não bata. Eduque” e “Diga Não ao Bullying”, eis aí ações concretas que, além de diminuir o sofrimento de crianças e jovens, contribuem de forma efetiva e de longo prazo para a diminuição da violência, grande anseio da sociedade moderna.
Artigo retirado do site do Juizado de Infância e Juventude de Goiânia, escrito por Mário Felizardo, Oficial de Proteção da Infância e da Juventude do Poder Judiciário Coordenador da ONG Diga Não ao Bullying
Atualização: Esse artigo foi escrito em 2007, então muita coisa pode ter mudado na legislação, não pesquisei sobre isso.