Um tema que vai e volta a ser tema de discussões sempre na nossa sociedade é a intolerância, que não é só sentimento alheio, muitas vezes é nosso também.
Para mim, como pessoa "do povo", ou seja, que não sou nenhuma socióloga, psicóloga, psiquiatra e nem nada mais que me qualifique a dar definições aprofundadas, intolerância se resume em não suportar no outro coisas que talvez só diga respeito a ele próprio. Exemplo: homossexualismo.
E para as coisas que prejudiquem a terceiros, existe a lei.
Mas vamos falar daquele sentimento de não aceitar o outro como ele é a ponto de não conseguirmos guardar civilizadamente para nós mesmos esse ponto de vista?
Onde quero chegar? Na fé! Ouvi uma vez Daniel Filho no Fantástico dizer que fé não é para quem quer, é para quem pode. Eu concordo muito com isso. Não se escolhe em que acreditar, ou acreditamos ou não.
Eu tenho minha fé, quem me conhece um pouco melhor ou ao meu blog sabe disso. Não é da minha personalidade carregar bandeiras sobre isso porque acho que só ter uma religião não faz de ninguém melhor. Tenho amigas muito queridas com diversas crenças diferentes e demoramos a saber disso porque não é prioridade, não é mais importante do que nossa amizade. Pois bem, cheguei ao ponto que queria: religião não é importante!
Ultimamente tenho visto uma verdadeira guerrinha de nervos de algumas pessoas contra outras de crenças diferentes. Se for um ateu? Ah, esse não tem salvação, é fogueira ou mármore do inferno.
E também acho que algumas imposições religiosas tem ultrapassado o limite do aceitável para o bom convívio. Essa semana mesmo no meu prédio perdi a paciência e reclamei de uma vizinha que ouvia música evangélica em volume ensurdecedor. Eu desci e fui perguntando ao porteiro (que nada tinha a ver com isso), porque muita gente quer nos converter no grito, literalmente. Tá, eu admito, se fosse Tom Jobim(que adoro) ou Timbalada, eu teria a mesma reação.
Ele não me respondeu (e isso nem tem resposta). Respeito é bom e todo mundo gosta, mas na hora de respeitar os pontos de vistas alheios, a coisa toda toma outra forma.
E crença é tão particular, uma coisa tão íntima mesmo, que não podemos simplesmente supor que o outro deva engolir nossa religiosidade goela abaixo só porque gostamos de ouvir o programinha de rádio que coincidentemente passa às 15horas e estou no trabalho. Malditos celulares com rádio! Sua fé, que foi tão boa para você e mudou sua vida para sempre (amém) pode não ser boa para as 6.998 pessoas que pretendem se concentrar no trabalho naquele momento.
A Constituição de 1988, Art. 5º, inciso VI, assegura o direito inviolável à liberdade de crença (e nas entrelinhas o direito a não ter nenhuma crença). Então, por favor, não venham ofender minha fé ou tentar me convencer da sua, porque no máximo, terá de mim uma antipatia. Você não está acima da Constituição, se conforme!
E quando juntamos fanatismo religioso com homofobia? Uma combinação catastrófica, capaz de gerar entendimentos no mínimo curiosos. Uma conhecida um dia me disse que homossexualismo não era de Deus, que a humanidade iria acabar se todos começassem a achar ser gay normal. Eu disse que a humanidade não iria se extinguir por causa dos gays, porque eles eram minoria. E quer saber? Depois fui lembrada pelo meu marido de um fato importante nessa estatística: muitos casais gays tomam para si a responsabilidade de cuidar muito bem dos filhos dos héteros "abençoados por Deus".
Fui criada por mãe evangélica, e nem minha mãe jamais me disse que religião seguir ou em que acreditar. Ainda bem, essa imposição poderia ter sido catastrófica, traumatizante...
Já frequentei algumas religiões, o bastante para saber que ler bíblia não faz de ninguém o dono da verdade, e que muitas pessoas, mesmo não acreditando em Deus (aquele Deus na forma que os cristãos acreditam), são pessoas muito melhores do que muitos que vivem clamando e exaltando o nome de divindades.
Para mim o princípio básico de qualquer religião deveria ser ajudar ao semelhante, ajudar estendendo a mão, e não somente a bíblia.