Depois de um certo tempo trabalhando com pessoas e donativos, aprendi muitas coisas e se hoje puder dar um conselho, faço da seguinte forma: se for fazer, faça com o coração, faça seu melhor.
Eu vejo tanta solidariedade aqui na blogosfera, tanta artesã fazendo mimos para doar, com tanto carinho e tanto capricho que acho que as pessoas que ganham recebem muito mais que pedacinhos de pano, recebem boas energias e overdose de carinho.
Eu fico só obervando e acho isso o melhor de tudo. Uma fabrica o coelhinho, o gatinho, a boneca, a outra monta enxovalzinho, borda fraldinha, arrecada dinheiro quase num trabalho de formiguinha, devagar e sempre. Eu me delicio com essa movimentação, meu coração se alegra verdadeiramente com essas ações.
Mas, por outro lado, nem todo mundo coloca amor no que doa. Muitas vezes vemos que as pessoas não tratam com cuidado seu semelhante, e em vez de ajudar acaba frustrando e piorando a auto estima daquele que já está tão carente de tudo.
Estou falando de coisas que já vi aqui na cidade e notícias na internet, não em nossos projetos solidários na blogosfera, isso não!
Exemplo: no meu trabalho já fizemos grandes mobilizações para arrecadação de roupas, calçados e cobertores, em épocas diversas, seja inverno, tragédias por enchentes e até mesmo para o Haiti. A maioria dos meus colegas (quase 200 pessoas), são gente do bem, que gosta de ajudar. Mas as doações vinham da cidade toda, e olhe... nem gosto de lembrar o quanto de roupa embolorada, rasgada, inútil, verdadeiros lixos mesmo, acabamos jogando fora. Era roupa com, pasme, vômito, sangue e outras tantas coisas que é melhor nem analisar para saber o que são. Sapatos sem solado, só um pé, Havaianas sem correias ou "comidas" a metade (imagino que por animais de estimação), botas de couro em decomposição, etc, etc... Ah, e tem as roupas íntimas relaxadas, furadas, squeeze infantil usado e mofado... arroz carunchado(com bichinhos)... e vamos parar por aqui.
Estou dizendo tudo isso para que percebam que por pior que seja uma tragédia (no caso, terremoto e enchentes), a situação ainda pode piorar se a ajuda vem de pessoas irresponsáveis e não cautelosas. Nós abríamos toooodos os embrulhos, tirávamos o lixo separávamos por categorias e íamos guardando em caixas e etiquetando tudo. Tudo que fizemos foi com cuidado e responsabilidade, certos de que o que enviamos não era somente volume e sim utilidade.
Já pensou gastar transporte com lixo? Já pensou numa família perdendo a chance de ganhar coisa boa porque já tinha ganhado um volume de roupa embolorada e inútil? E as crianças comendo biscoitos vencidos?
É muito importante, quando formos organizar campanhas, que haja pessoas que cuidem minuciosamente desses detalhes, que no fim, farão realmente a diferença, e não apenas peso, na vida das pessoas ajudadas.
Uma boa sexta solidária a nós todos!