"Onde mesmo foi que eu deixei a blusa de oncinha?... E o creme dental e amaciante, será que comprei demais para uma casa e deixei acabar na outra?" ... Listerine, condicionador, perfume, secador, roupa íntima, tênis, roupa de ginástica, geladeira, televisão, panos de prato, cama de casal, hidratante, perfume, escovas de dente, fogão, armários... tudo, mas tudo isso que escrevi, nesse tempo todo na minha vida de casada, ou foi comprado em dobro ou foi levado de um lado para outro, nos 206 kms que separam minhas duas casas.
Não, eu nunca morei separada do meu marido por modernidade ou por achar bonito: simplesmente não tivemos escolha. Quando nos conhecemos eu já tinha sido efetivada no Tribunal de Justiça de Goiás, na cidade de Itumbiara, e quando nos casamos tínhamos esperança que eu conseguisse transferência, afinal sou servidora ESTADUAL. Nesses cinco anos lidamos com políticos, juízes, advogados, desembargadores, filósofos de toda natureza, religiosos, "advinhos" da vida alheia, petições, "implorações", descasos, peregrinações e tudo mais que se possa imaginar, tudo com intuito de que minha transferência se concretizasse. Lidamos mais ainda com saudades, incertezas, solidão, crises financeiras (afinal, viagens semanais e manutenção de duas casas detonam qualquer orçamento). Foram duas licenças-prêmio e várias férias das quais eu voltava sempre destruída, como que entrando de novo em um pesadelo, cada vez que tinha que voltar ao trabalho. E todas essas pessoas que estudaram tanto para gerir o Poder Judiciário teimavam em não ver o óbvio: eu trabalharia muito melhor trabalhando na cidade que elegi para morar, onde nasceu e trabalha meu esposo.
E no meio disso tudo, como ouvi imbecilidades!!! Cheguei a ouvir que eu escolhi essa vida ao arrumar um marido em outra cidade. Ora, que pena que eu não pude responder ironicamente que eu ia então abrir licitação para arrumar candidatos a marido na mesma cidade que eu, da próxima vez! Ouvi pérolas também do tipo: "Por que você não se casou com juiz? Afinal eles têm direito a levar consigo as esposas para onde forem: a Lei os ampara." (sim, a lei ampara os juízes, meus superiores, mas não me ampara... esse privilégio é surpresa para vocês?) Desculpe, gente, não troco meu marido por nenhum outro, seja lá de que profissão for.
Enfim, eu teria contrariedades e coisas desagradáveis para destilar aqui até a madrugada, mas não darei a essas pessoas o presente de desperdiçar mais uma vez meu tempo por causa delas.
A novidade que tenho é: estamos deixando definitivamente nossa casa em Goiânia para nos fixarmos aqui em Itumbiara e largar de uma vez por todas essa vidinha nômade que tanto me desagrada. Vou largar a estrada e os perigos de dirigir nas noites e madrugadas. Vou abandonar o cronômetro que vivia dentro da minha cabeça e que começava a contagem regressiva a cada vez que eu chegava em casa, na sexta feira.
Eu não tenho rancores, afinal, quem sabe essas pessoas não foram apenas instrumentos para que o nosso destino aqui nessa cidade acontecesse? Melhor eu pensar assim, raiva não é coisa do bem!
Eu só desejo que dessas pessoas todas que foram indiferentes ao meu drama, às que privilegiaram colegas meus em detrimento aos meus processos (geralmente por motivos de "bom relacionamento"), às que tripudiaram e às que simplesmente desejaram que eu jamais conseguisse transferência, que jamais tenham que se privar da convivência de seus cônjuges, filhos ( ou no meu caso, de tê-los), mas se isto ocorrer, que se lembrem de mim e da minha história, e que se arrependam dos braços cruzados.
No Dia dos Namorados desse mês, no meio de uma pizza e uma garrafa de vinho, eu e meu eterno namorado decidimos abrir mão da nossa casa que construímos com tanto carinho para começar tudo de novo aqui. Não foi e nem está sendo fácil, mas é nossa escolha ser felizes e (galera do mal, sorry) juntos!
Está sendo um verdadeiro tumulto colocar isso tudo em prática, planejar, escolher móveis, medir, imaginar, fazer contas, transportar, decidir... affff... mas no fim tudo será compensador, acreditamos!
Por esse motivo eu disse que visitaria alguns blogs de decoração das amigas aqui, principalmente os que tem detalhes charmosos e baratíssimos, afinal estamos tendo muito gasto. Essa é a parte divertida, a parte final, da decoração, porque percorrer lojas e lojas medindo e escolhendo móveis, isso não é de Deus, não!
E por fim, estou aqui na net colhendo ideias do Chá de Casa Nova, finalmente, na maior empolgação. Eu adoro coisinhas decorativas artesanais (porque afinal depois de cinco anos de casamento, nós temos tudo em matéria de utilidade doméstica...rs). E não sou difícil de se agradar, amo panos de prato, africanas (ou baianas) beeeem coloridas, galinhas, etc, etc... fica aí a dica a quem quiser fazer uma blogueira feliz! hehehe...
E por último, nos desejem felicidades, afinal nós merecemos!
*Agradeço muito a todos os amigos verdadeiros que sempre aturaram minhas queixas sem fim e colocaram um pouco de felicidade na minha vida.
* Não vou me desligar jamais dos vínculos em Goiânia, internet e estrada existem para resolver isso.